Novembro 7, 2024

Mais um tijolo na parede: paredes que dividem as comunidades

Você sabia que nos últimos 20 anos o número de barreiras físicas que dividem as comunidades e impedem a imigração disparou?

Em um momento em que os países e as pessoas nunca estiveram tão interconectados, a divisão entre ricos e pobres aumentou, e o nacionalismo também.

Os muros se tornaram um símbolo dessa crise política e da desigualdade global, tornando o outro o inimigo, ao mesmo tempo consolidando a autoridade do construtor.

Vejamos alguns exemplos.

Em 1989, com a queda do Muro de Berlim, parecia possível um novo futuro de liberdade e dignidade em que as pessoas entendiam a violência das barreiras físicas para impor o controle político militarizado.

No entanto, desde o início de 2000, o número de muros e cercas aumentou drasticamente em todo o mundo, totalizando mais de 70.

O regime israelense lidera essa tendência, com um total de seis muros que impõem o apartheid contra os palestinos.

  • Palestina

Em 1992, a ideia de criar uma barreira física entre a população israelense e palestina foi proposta pelo então primeiro-ministro Yitzhak Rabin. A primeira construção começou em 1994 e depois foi implementada de maneira mais extensiva em 2002, durante a Segunda Intifada.

O Muro do Apartheid tem agora 712 km de extensão.

Construído com a desculpa de preocupações de “segurança”, o muro é estratégico para Israel na anexação da maior parte da terra e expansão dos assentamentos coloniais.  Isso impediu que alguns palestinos tivessem acesso a suass escolas ou terras agrícolas, especialmente em torno de Jerusalém, Belém, Tulkarem e Qalqilya.

Israel construiu outros muros, principalmente em toda a Faixa de Gaza sitiada, inclusive no mar.

 

  • EUA-México

Os EUA construíram uma barreira descontínua com a fronteira mexicana com o objetivo de bloquear a imigração mexicana e da América Central para os EUA.

O muro, construído com dinheiro dos contribuintes dos EUA, causou a morte de 42 migrantes em 2022 e centenas de feridos. Também fragmenta tribos e povos indígenas, como a tribo Tohono O’odham.

O muro agora tem 1126,54 km, sendo que 3.145 km demarcam a fronteira e é controlado por uma “cerca virtual” de sensores, câmeras e outros equipamentos de vigilância.

 

  • Marrocos – Sahara Ocidental

O governo marroquino, aconselhado por Israel e pelos Estados Unidos, começou a construir um muro no início dos anos 1980 com a intenção de separar e isolar as comunidades, bem como o movimento de libertação do Sahara Ocidental, que luta contra a ocupação do seu território. Visa também bloquear os migrantes subsaarianos.

O muro tem hoje 2.700 km de extensão e é cercado por minas terrestres.

 

  • Ceuta e Melilla da Espanha – Marrocos

Como legado da colonização espanhola de Marrocos, o país ainda tem sob o seu controle as cidades de Ceuta e Melilha, no lado do continente africano.

Em meados da década de 1990, época em que a Europa estava desenvolvendo o mito de uma “Europa sem fronteiras”, a Espanha começou a construir cercas em torno de seus enclaves de Melilla (11 km) e Ceuta (8,4 km) com o propósito declarado de impedir a imigração.

No verão de 2022, cerca de 2 mil migrantes que tentaram atravessar o muro foram atacados por guardas de fronteira marroquinos e espanhóis, que usaram forças letais, matando 37 deles.

 

  • Hungria-Sérvia e Croácia

Em 1995, o governo húngaro começou a construir um muro de 175 km de extensão na fronteira com a Sérvia com a intenção explícita de impedir a imigração para a UE.

Em 2015, o governo de Viktor Orban, extrema-direita da Hungria, descontente com a coordenação da UE no controle das fronteiras e da imigração, construiu uma cerca de 348 km de comprimento na fronteira com a Croácia.

 

  • França – Calais

Em 2016, em resposta a uma maior taxa de imigração na Europa, o Reino Unido e a França, em vez de abordarem a questão estruturalmente e implementarem políticas de alojamento adequadas, decidiram construir uma barreira física (1 km) em Calais, o principal ponto de passagem entre os dois países.

A cerca foi construída também para impedir o acesso ao Canal do Euro por refugiados residentes na chamada “Selva”, o campo informal de refugiados de Calais.

 

  • Índia-Paquistão

A chamada “linha de controle” entre a Índia e o Paquistão foi acordada após a guerra em 1971 e divide a região da Caxemira em duas partes.

A partir de 1990, a Índia começou a construir uma cerca contra a imigração de muçulmanos para a Índia, apesar dos protestos do governo paquistanês.

A cerca percorre 550 km.

 

Infelizmente, existem muitos outros muros em todo o mundo: Coreia do Norte vs. Coreia do Sul, Bagdá, Iraque vs. Kuwait, Bulgária vs. Turquia, Tailândia vs. Malásia, Irlanda do Norte, para citar alguns.

Todos esses muros estão dividindo comunidades, exacerbando o nacionalismo e o autoritarismo.

Em vez de construir muros, o Norte Global, e particularmente os antigos governantes coloniais, têm a responsabilidade de abordar o legado de centenas de anos de colonialismo e exploração na causa profunda do exílio forçado e da crise climática, inclusive através de reparações.